terça-feira, 7 de julho de 2015

Ironman Florianópolis 2015 - Relato de prova

Passado mais de um mês da prova, após férias de 1 semana, estou de volta.
A poeira já baixou e está na hora de fazer meu relato...

Chegamos em Florianópolis na quarta-feira 27/05. Era tempo suficiente e tranquilo para chegar, deixar todo o equipamento em ordem e curtir o clima pré-ironman. Realmente, como eu já tinha visto nos anos que fui assistir, a semana é algo fora da realidade lá em Jurerê. Parece que o bairro virou realmente a cidade do Ironman. Encontrar conhecidos, ver todo mundo que passou por um período de treinos parecido com o seu é muito, muito bom. Ao mesmo tempo você quer que chegue o domingo, mas também que não passe tão depressa o pré-prova porque é uma festa.

Procurei seguir os conselhos de amigos já veteranos de IM e fiquei um pouco distante do burburinho e dos papos de feira. Passei na feira somente para pegar o kit e ver o necessário já na quinta-feira. Na própria quinta, fizemos o treino de natação, e a temperatura da água estava perfeita. Um dia cinza ainda, mas a previsão era de melhora para o final de semana.

Na quinta à noite e sexta pela manhã chegaram meus familiares e aí a festa estava completa! Apesar de querer ver os amigos do esporte, priorizei totalmente a família. Moro longe e estar com eles, que vieram só pra me ver, foi muito gostoso e até me acalmou, me trouxe muito conforto. Na sexta à noite chegou a amiga Lia Borges que corre e está flertando com o triathlon. Minha torcida organizada estava completa e eu estava radiante.

Ainda na sexta à noite arrumei todas as sacolas de prova e fiz uma checagem (mais uma!!! foram muitas!!! rs) na bike. Nós mesmos montamos nossa bike, que já veio revisada de São Paulo. Deu tudo certo e elas estavam prontíssimas. Nós também!! Hora de dormir bem, já que a véspera ia ser tensa...

Sábado foi dia de descansar. Almoço com a família e última conferida nas sacolas para o check-in. Estava na hora!!! O IM já estava começando. Esperei minha hora do check-in e fomos para o Clube Doze para deixar tudo lá. Aí sim, começa a bater aquele nó na garganta. Eu não estava nervosa, não estava tensa, nem preocupada. Estava simplesmente feliz como poucas vezes estive na vida. As lágrimas queriam cair, mas eu segurei. Muito emocionada, chequei tudo, deixei a bike coberta, as sacolas no cabide e fiz a pintura do número. Você se sente realmente um protagonista, fotos, familiares, é muito gostoso, é a hora de fazer valer o período de treinos exaustivo.

Almoço com a família... Foi bom demais estar com eles!!!
Aquela hora que dá um nó na garganta...

E o sorriso não sai do rosto!!!


E o dia voa. Quando você vê, já é noite. Depois de jantar no apartamento com a família, voltamos para o hotel. Tomei um chá e tentei me concentrar para dormir o melhor possível. Antes da prova, eu tive pesadelos duas vezes. Com a mesma coisa: eu não acordava e perdia o horário da largada. Imagine se eu queria dormir, e o medo? hahahahaha...

Mas, como que uma bênção, dormi até que muito bem. Acordei com o primeiro toque do despertador às 3:30. Começava todo aquele ritual que fiz todo final de semana antes dos treinos. O sonho estava começando. Tomei meu café da manhã, peguei a sacola branca com todo o material que faltava, água para as caramanholas, roupa de borracha e fomos até o apartamento onde estava minha família. Lá encontramos Lia, minha irmã e meu cunhado, que nos deram uma carona até a área de transição.

Hora de arrumar tudo, checar novamente as sacolas, colocar a comida na bike e nos bolsos da roupa. Fiz tudo com muita calma, cheguei bastante tempo antes. Uma hora antes da largada já estávamos caminhando até o local da natação.

Nos encontramos novamente com minha família. Um abraço apertado, emoção e concentração, tudo junto. Era hora de entrar na área dos atletas. Chegamos e quase que só tinha nós e mais uma dezena de atletas ali. Logo seriam 2000. Sentei na areia e vi o sol nascendo aos poucos, os fiscais entrando na água. Como eu sonhei com aquele momento!!!!!! Deixei as lágrimas caírem, fechei os olhos e agradeci a Deus por me permitir estar ali.

Cara de choro...
Quando menos esperamos, a sirene tocou. Optei por largar mais ou menos na frente e bem à direita, onde geralmente temos mais atletas largando. As bóias intermediárias, novidade este ano, ajudaram bastante na navegação. Me disseram: quando você menos esperar, já estará na primeira bóia. Totalmente verdadeiro. Eu tinha muito, mas muito medo da largada do Ironman. Nunca tinha largado com tanta gente. É bem verdade que eu levei puxões, braçadas na cara e chutes, mas não achei nada demais. Já passei coisa muito pior em largadas menores. Quando me vi, tinha nadado nem 500m e já achei minha bolha. Comecei a nadar muito tranquila, encaixei o ritmo e fui seguindo com o grupo. Até a virada de bóia foi muito tranquila também. Quando vi, já estava na areia para o primeiro retorno. E que emoção me deu!!!! Logo que saí da água já ouvi meu nome, abri um sorriso enorme e segui correndo para começar a segunda perna. Um pouco antes de entrar na água, vi minha amiga Lia. Que força me deu amiga!!!! Te ver foi bom demais!!!

Fazendo a volta na areia para entrar na água novamente. Acho que quem me via me achava a louca do sorriso.


Eu não sabia se olhava o relógio ou não para ver o tempo da primeira perna. Não aguentei e olhei. 34 minutos marcava quando entrei na água novamente. Eu não sabia se nadava ou gritava de felicidade. Meu treinador de natação, mestre Wilson, me falava nas últimas semanas: você vai nadar para baixo de 1:10. Só conseguia lembrar dele me incentivando, dos treinos intermináveis de final de semana quase que sozinha na piscina da USP, do frio que passei, dos dias que madruguei. Estava valendo a pena.

Na segunda perna já entrei com o ritmo bem encaixado e procurei nadar mais forte. Tentei arriscar um pouco mais. Percebi que lá nas bóias de vértice o mar estava ficando mais mexido. Mas foi muito tranquilo. Quando menos esperei, já estava na areia de novo. A navegação me surpreendeu. Foi demais!!!! A natação tinha sido muito, mas muito melhor do que minha mais otimista previsão. E olha como eu saí da água, parecia que já tinha chegado no pórtico...

O famoso M da natação. Até que eu desenhei direitinho...


1 hora e seis minutos??? Eu nem acreditava, olha a comemoração!! Saí gritando!!! rs
Passada a empolgação da saída da água, foi hora de me concentrar na transição. Fiz uma T1 mais lenta do que eu gostaria. Resolvi pedalar usando uma camisa de ciclismo pois os bolsos maiores me permitiram levar a comida e facilitou na hora de vestir. Como eu não sabia se esfriaria na segunda volta, resolvi já colocar os manguitos e foi aí que perdi um bom tempo. Mesmo secando os braços com uma toalha, os manguitos demoraram a entrar. Mas preferi fazer tudo com calma do que esquecer algo e pagar o preço.

O que é um capacete rosa saindo para pedalar 180km? Só podia ser eu... hahahahaha
Chegou a hora onde você passa mais tempo sozinho na prova. Porque a natação passa rápido, na corrida você cruza toda hora com a torcida, mas no ciclismo... São mais de cinco horas, a maior parte conversando com seus pensamentos. O dia estava uma bênção em Floripa. Sem vento, sol sem nuvens, temperatura amena. Perfeito para pedalar.
Conversando com minha própria sombra...
Passei os primeiros 20 km ainda sem acreditar na natação que eu tinha feito. Eu ria sozinha, parecia uma boba alegre... Quando vi, já estava indo para o retorno do Shopping Iguatemi. E ali eu me emocionei quando passei na frente do apartamento em que morei nos meus últimos anos em Floripa. Quantas vezes eu sentei na sacada para ver o Ironman, sem saber se um dia eu conseguiria estar dentro da prova. Passa um filme na cabeça, de verdade.

A parte mais linda do percurso é, sem dúvida, na Beiramar e quando passamos pela ponte Hercílio Luz. Depois é aquele caminho do Túnel e as intermináveis idas e vindas na Expressa Sul. E volta novamente para Jurerê para iniciar a segunda volta.

A foto de cartão postal que todo Ironman sonha ter em Floripa...

Quando eu já estava quase no retorno em Jurerê, um susto: um barulho muito estranho vindo da roda traseira, como um pneu esvaziando. Olhei para trás e não parecia ter nada errado, mas já esperei o pior. Ninguém quer ter problemas na bike, você revisa tudo, reza para que um problema não atrapalhe o dia que você esperou e treinou tanto, mas pode acontecer. Por sorte, foi só um susto: um saquinho que algum atleta jogou foi parar bem no meu cassete. Consegui me livrar dele e vamos em frente!

Por sorte, o vento não entrou na segunda volta. Realmente foi um dia atípico no IM Florianópolis. Segui na segunda volta mantendo a mesma média e cadência do que na primeira. Mantive o ciclismo todo sem forçar, sem inventar ou arriscar. Foi o conselho dado pelo coach e pelos veteranos e segui à risca. Me diverti muito, dei risada, acenei para os amigos que estavam na prova, gritei, fiz festa. Não poderia ter sido diferente.

Um pouco menos de cinco horas e meia depois, era hora de entregar a bike. Ali eu já sabia: eu ia ser um Ironman. Só dependia de mim agora, das minhas pernas. Até ali, eu tinha feito tudo certo, dosado o esforço, me hidratado e alimentado conforme o relógio.

Usei o relógio para controlar a alimentação e hidratação a prova toda. Um erro nesta parte pode custar o dia...


Fiz uma T2 bem mais rápida e objetiva. Tênis, meia de compressão (sim, perdi tempo para colocá-las, afinal seriam 42km) e o resto carreguei comigo numa sacolinha para ir vestindo e correndo. Funcionou super bem.

Ao começar a corrida senti que valeu a pena guardar a energia, não forçar o pedal. As pernas logo soltaram. Fui me guiando pela sensação de esforço sem me preocupar com o pace, só olhava o relógio para me alimentar. E sim, eu caminhei nas subidas de Canasvieiras. Minha opinião: não há vergonha nenhuma em andar. Mais vale andar rápido e logo voltar a correr do que subir num trote manco e se cansar à toa. Mas cada um faz a estratégia do jeito que lida melhor.

A única foto com cara de sofrimento que tenho. Na subida em CanasJurê. Dói, viu?

Os primeiros 21km passam rápido, a empolgação da prova é grande e consegui manter um ritmo consistente para minha realidade. A corrida continua sendo meu ponto fraco, mas acho que melhorei muito nesse ciclo de treinos e ainda tenho espaço para melhorar mais.
A energia da torcida é uma das maiores que já vi. Cada vez que você entra na Av. dos Búzios, parece final de Copa do Mundo. Gritos, palmas, buzina. Eu tinha minha torcida organizada, minha família linda e a Lia minha amiga irmã. Eles fizeram cartazes, vibraram, torceram. Eu fui aos prantos quando vi eles pela primeira vez na corrida. Moro longe da minha família há muitos anos, a saudade é muito grande. Ver eles torcendo nesse momento e entendendo o quanto aquilo era importante para mim foi algo que eu nunca mais vou esquecer. Além disso, muitos amigos virtuais, conhecidos, amigos dos treinos e até amigos da época que morei em Floripa estavam ali. Cada vez que eu via um rosto conhecido, ouvia meu nome, eu me sentia mais forte e determinada a não desistir, não quebrar. Porque o cansaço é muito grande, mesmo que você tenha treinado, você não sabe o que vai sentir e o que vai acontecer.

Todo mundo vê o glamour da Av. dos Búzios... Mas a maior parte da corrida é assim: você e seus colegas de sofrência.
A cabeça sempre comanda e por muitas vezes eu pensei em parar e caminhar o resto da prova. Mas os dois momentos piores foram na abertura da segunda e terceira voltas. Abrindo a segunda volta, a Lia foi meu anjo e seguiu pela calçada me incentivando, gritando, não me deixando parar. Foi comigo por alguns km me apoiando de longe, mentalmente. Foi o suficiente para passar a vontade de parar e seguir no ritmo. Altos e baixos, assim é a maratona do Ironman. O segredo é saber administrar, passa rápido e quando você vê já está com as duas pulseiras no braço.

Quando passei para abrir a terceira volta, a Lia gritou: continua assim e você vai fechar Sub 11h! Naquela hora começou a cair a ficha. Eu não fazia a menor idéia de qual era o meu tempo até ali, já que eu só estava controlando a alimentação. Foi o incentivo que faltava, segurei a onda de cansaço que batia de vez em quando e só conseguia imaginar meu tempo no pórtico. Eu já podia ver a luz, sentir o momento chegando. Estava chegando ao fim o dia mais mágico da minha vida.

Depois do km 37, foi só emoção. Daquele momento em diante eu não iria mais parar. Corri com toda minha força do coração e da alma. Quando faltava pouco mais de um km, uma surpresa linda: minha irmã me esperou para correr comigo até o funil de chegada. Corremos juntas, ela emocionada, eu estava quase que anestesiada, só olhava para frente e pensava no pórtico. A Lia veio filmando e gritando, foi absolutamente incrível, nunca imaginei minha chegada tão linda...  Meus pais estavam logo na frente. Parei, abracei e chorei. Eles foram uma torcida linda demais!

 

E então entrei no funil. 10 horas, 48 minutos e 54 segundos. You are an Ironman!!!!!



Dei o pulo mais alto que consegui, aterrissei e então veio o choro, chorei muito, de soluçar. Tudo o que eu ri na prova (e não foi pouco), chorei depois da chegada.

Gosto de pensar que foi um sonho. Foi perfeito, como tinha que ser. Passou tão rápido, mas nunca vou esquecer cada momento da prova. Tenho uma lembrança tão vívida que lembro das cores, de cada parte do dia, de cada um que eu encontrei.



Foi, sim, o primeiro de muitos. A preparação é muito dura, exige abdicar de muitas coisas, mas para mim não foi um fardo. Tive meu noivo ao meu lado, um parceiro para todas as horas. Ter feito o Ironman com ele foi muito, muito lindo.
Ainda não sei qual será o próximo. Não estou inscrita para Floripa em 2016. Não sei se volto a fazer. Quero, por um tempo, guardar Floripa na lembrança do jeito que vivi o dia 31 de Maio de 2015: junto com minha família, meus amigos, na cidade que amo, fazendo o que eu gosto tanto. Nadar, pedalar, correr e sorrir. Sem sorrir, não faz sentido!!!!!!




4 comentários:

  1. Oi Cris,
    Não nos conhecemos (ainda - rs), te acompanho no IG, mas lágrimas rolaram com seu depoimento. Estava lá em Floripa, acompanhando alguns amigos.
    Realmente é surreal tudo aqui lá.
    PARABÉNS!!! =)

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  2. Parabéns Cris, vc voou sem medo de algo dar errado. Emocionante seu relato. vi vc passar voando, nem que eu quisesse não conseguiria fazer um tempo desses, ainda mais no primeiro Ironman. Minha rotina é muito dura, e me sinto mal por não conseguir treinar tanto e conseguir fazer um tempo desses, apesar de ainda sonhar.
    Vc está de parabéns por tanta disciplina, terminou com louvor e espero que esse não seja o primeiro e último, tem que fazer outro pra pelo menos 10:47, combinado?

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  3. Acho que li e reli o blog dezenas de vezes Cris! Queria dizer o quanto me inspira, me motiva e que seus posts são como um "botão do pânico" pra mim: quando a coisa fica feia no treino, eu me lembro deles e de certa forma me acalmo e continuo com o treino!!
    Te encontrar no mercado, no furacão de SP, foi sensacional!!
    Tô ansiosa pra saber quais os próximos planos pós iron70.3 foz!!
    Beijão e ótimos treinos!!! (Ju_tm) =]

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  4. Cris!! Você não tem ideia de quem eu sou, mas saiba que chorei lendo seu report sobre sua participação no iron.. Sou apenas uma apaixonada pelo triatlon, hoje em dia só corro mas já ganhei de presente de natal minha bike.. Adorei a forma como você lidou com todo o cansaço e fadiga, sempre sorrindo!! Parabéns demaissssss... Virei fã! Um dia quem sabe chego lá.. Continue assim :)

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