terça-feira, 7 de julho de 2015

Ironman Florianópolis 2015 - Relato de prova

Passado mais de um mês da prova, após férias de 1 semana, estou de volta.
A poeira já baixou e está na hora de fazer meu relato...

Chegamos em Florianópolis na quarta-feira 27/05. Era tempo suficiente e tranquilo para chegar, deixar todo o equipamento em ordem e curtir o clima pré-ironman. Realmente, como eu já tinha visto nos anos que fui assistir, a semana é algo fora da realidade lá em Jurerê. Parece que o bairro virou realmente a cidade do Ironman. Encontrar conhecidos, ver todo mundo que passou por um período de treinos parecido com o seu é muito, muito bom. Ao mesmo tempo você quer que chegue o domingo, mas também que não passe tão depressa o pré-prova porque é uma festa.

Procurei seguir os conselhos de amigos já veteranos de IM e fiquei um pouco distante do burburinho e dos papos de feira. Passei na feira somente para pegar o kit e ver o necessário já na quinta-feira. Na própria quinta, fizemos o treino de natação, e a temperatura da água estava perfeita. Um dia cinza ainda, mas a previsão era de melhora para o final de semana.

Na quinta à noite e sexta pela manhã chegaram meus familiares e aí a festa estava completa! Apesar de querer ver os amigos do esporte, priorizei totalmente a família. Moro longe e estar com eles, que vieram só pra me ver, foi muito gostoso e até me acalmou, me trouxe muito conforto. Na sexta à noite chegou a amiga Lia Borges que corre e está flertando com o triathlon. Minha torcida organizada estava completa e eu estava radiante.

Ainda na sexta à noite arrumei todas as sacolas de prova e fiz uma checagem (mais uma!!! foram muitas!!! rs) na bike. Nós mesmos montamos nossa bike, que já veio revisada de São Paulo. Deu tudo certo e elas estavam prontíssimas. Nós também!! Hora de dormir bem, já que a véspera ia ser tensa...

Sábado foi dia de descansar. Almoço com a família e última conferida nas sacolas para o check-in. Estava na hora!!! O IM já estava começando. Esperei minha hora do check-in e fomos para o Clube Doze para deixar tudo lá. Aí sim, começa a bater aquele nó na garganta. Eu não estava nervosa, não estava tensa, nem preocupada. Estava simplesmente feliz como poucas vezes estive na vida. As lágrimas queriam cair, mas eu segurei. Muito emocionada, chequei tudo, deixei a bike coberta, as sacolas no cabide e fiz a pintura do número. Você se sente realmente um protagonista, fotos, familiares, é muito gostoso, é a hora de fazer valer o período de treinos exaustivo.

Almoço com a família... Foi bom demais estar com eles!!!
Aquela hora que dá um nó na garganta...

E o sorriso não sai do rosto!!!


E o dia voa. Quando você vê, já é noite. Depois de jantar no apartamento com a família, voltamos para o hotel. Tomei um chá e tentei me concentrar para dormir o melhor possível. Antes da prova, eu tive pesadelos duas vezes. Com a mesma coisa: eu não acordava e perdia o horário da largada. Imagine se eu queria dormir, e o medo? hahahahaha...

Mas, como que uma bênção, dormi até que muito bem. Acordei com o primeiro toque do despertador às 3:30. Começava todo aquele ritual que fiz todo final de semana antes dos treinos. O sonho estava começando. Tomei meu café da manhã, peguei a sacola branca com todo o material que faltava, água para as caramanholas, roupa de borracha e fomos até o apartamento onde estava minha família. Lá encontramos Lia, minha irmã e meu cunhado, que nos deram uma carona até a área de transição.

Hora de arrumar tudo, checar novamente as sacolas, colocar a comida na bike e nos bolsos da roupa. Fiz tudo com muita calma, cheguei bastante tempo antes. Uma hora antes da largada já estávamos caminhando até o local da natação.

Nos encontramos novamente com minha família. Um abraço apertado, emoção e concentração, tudo junto. Era hora de entrar na área dos atletas. Chegamos e quase que só tinha nós e mais uma dezena de atletas ali. Logo seriam 2000. Sentei na areia e vi o sol nascendo aos poucos, os fiscais entrando na água. Como eu sonhei com aquele momento!!!!!! Deixei as lágrimas caírem, fechei os olhos e agradeci a Deus por me permitir estar ali.

Cara de choro...
Quando menos esperamos, a sirene tocou. Optei por largar mais ou menos na frente e bem à direita, onde geralmente temos mais atletas largando. As bóias intermediárias, novidade este ano, ajudaram bastante na navegação. Me disseram: quando você menos esperar, já estará na primeira bóia. Totalmente verdadeiro. Eu tinha muito, mas muito medo da largada do Ironman. Nunca tinha largado com tanta gente. É bem verdade que eu levei puxões, braçadas na cara e chutes, mas não achei nada demais. Já passei coisa muito pior em largadas menores. Quando me vi, tinha nadado nem 500m e já achei minha bolha. Comecei a nadar muito tranquila, encaixei o ritmo e fui seguindo com o grupo. Até a virada de bóia foi muito tranquila também. Quando vi, já estava na areia para o primeiro retorno. E que emoção me deu!!!! Logo que saí da água já ouvi meu nome, abri um sorriso enorme e segui correndo para começar a segunda perna. Um pouco antes de entrar na água, vi minha amiga Lia. Que força me deu amiga!!!! Te ver foi bom demais!!!

Fazendo a volta na areia para entrar na água novamente. Acho que quem me via me achava a louca do sorriso.


Eu não sabia se olhava o relógio ou não para ver o tempo da primeira perna. Não aguentei e olhei. 34 minutos marcava quando entrei na água novamente. Eu não sabia se nadava ou gritava de felicidade. Meu treinador de natação, mestre Wilson, me falava nas últimas semanas: você vai nadar para baixo de 1:10. Só conseguia lembrar dele me incentivando, dos treinos intermináveis de final de semana quase que sozinha na piscina da USP, do frio que passei, dos dias que madruguei. Estava valendo a pena.

Na segunda perna já entrei com o ritmo bem encaixado e procurei nadar mais forte. Tentei arriscar um pouco mais. Percebi que lá nas bóias de vértice o mar estava ficando mais mexido. Mas foi muito tranquilo. Quando menos esperei, já estava na areia de novo. A navegação me surpreendeu. Foi demais!!!! A natação tinha sido muito, mas muito melhor do que minha mais otimista previsão. E olha como eu saí da água, parecia que já tinha chegado no pórtico...

O famoso M da natação. Até que eu desenhei direitinho...


1 hora e seis minutos??? Eu nem acreditava, olha a comemoração!! Saí gritando!!! rs
Passada a empolgação da saída da água, foi hora de me concentrar na transição. Fiz uma T1 mais lenta do que eu gostaria. Resolvi pedalar usando uma camisa de ciclismo pois os bolsos maiores me permitiram levar a comida e facilitou na hora de vestir. Como eu não sabia se esfriaria na segunda volta, resolvi já colocar os manguitos e foi aí que perdi um bom tempo. Mesmo secando os braços com uma toalha, os manguitos demoraram a entrar. Mas preferi fazer tudo com calma do que esquecer algo e pagar o preço.

O que é um capacete rosa saindo para pedalar 180km? Só podia ser eu... hahahahaha
Chegou a hora onde você passa mais tempo sozinho na prova. Porque a natação passa rápido, na corrida você cruza toda hora com a torcida, mas no ciclismo... São mais de cinco horas, a maior parte conversando com seus pensamentos. O dia estava uma bênção em Floripa. Sem vento, sol sem nuvens, temperatura amena. Perfeito para pedalar.
Conversando com minha própria sombra...
Passei os primeiros 20 km ainda sem acreditar na natação que eu tinha feito. Eu ria sozinha, parecia uma boba alegre... Quando vi, já estava indo para o retorno do Shopping Iguatemi. E ali eu me emocionei quando passei na frente do apartamento em que morei nos meus últimos anos em Floripa. Quantas vezes eu sentei na sacada para ver o Ironman, sem saber se um dia eu conseguiria estar dentro da prova. Passa um filme na cabeça, de verdade.

A parte mais linda do percurso é, sem dúvida, na Beiramar e quando passamos pela ponte Hercílio Luz. Depois é aquele caminho do Túnel e as intermináveis idas e vindas na Expressa Sul. E volta novamente para Jurerê para iniciar a segunda volta.

A foto de cartão postal que todo Ironman sonha ter em Floripa...

Quando eu já estava quase no retorno em Jurerê, um susto: um barulho muito estranho vindo da roda traseira, como um pneu esvaziando. Olhei para trás e não parecia ter nada errado, mas já esperei o pior. Ninguém quer ter problemas na bike, você revisa tudo, reza para que um problema não atrapalhe o dia que você esperou e treinou tanto, mas pode acontecer. Por sorte, foi só um susto: um saquinho que algum atleta jogou foi parar bem no meu cassete. Consegui me livrar dele e vamos em frente!

Por sorte, o vento não entrou na segunda volta. Realmente foi um dia atípico no IM Florianópolis. Segui na segunda volta mantendo a mesma média e cadência do que na primeira. Mantive o ciclismo todo sem forçar, sem inventar ou arriscar. Foi o conselho dado pelo coach e pelos veteranos e segui à risca. Me diverti muito, dei risada, acenei para os amigos que estavam na prova, gritei, fiz festa. Não poderia ter sido diferente.

Um pouco menos de cinco horas e meia depois, era hora de entregar a bike. Ali eu já sabia: eu ia ser um Ironman. Só dependia de mim agora, das minhas pernas. Até ali, eu tinha feito tudo certo, dosado o esforço, me hidratado e alimentado conforme o relógio.

Usei o relógio para controlar a alimentação e hidratação a prova toda. Um erro nesta parte pode custar o dia...


Fiz uma T2 bem mais rápida e objetiva. Tênis, meia de compressão (sim, perdi tempo para colocá-las, afinal seriam 42km) e o resto carreguei comigo numa sacolinha para ir vestindo e correndo. Funcionou super bem.

Ao começar a corrida senti que valeu a pena guardar a energia, não forçar o pedal. As pernas logo soltaram. Fui me guiando pela sensação de esforço sem me preocupar com o pace, só olhava o relógio para me alimentar. E sim, eu caminhei nas subidas de Canasvieiras. Minha opinião: não há vergonha nenhuma em andar. Mais vale andar rápido e logo voltar a correr do que subir num trote manco e se cansar à toa. Mas cada um faz a estratégia do jeito que lida melhor.

A única foto com cara de sofrimento que tenho. Na subida em CanasJurê. Dói, viu?

Os primeiros 21km passam rápido, a empolgação da prova é grande e consegui manter um ritmo consistente para minha realidade. A corrida continua sendo meu ponto fraco, mas acho que melhorei muito nesse ciclo de treinos e ainda tenho espaço para melhorar mais.
A energia da torcida é uma das maiores que já vi. Cada vez que você entra na Av. dos Búzios, parece final de Copa do Mundo. Gritos, palmas, buzina. Eu tinha minha torcida organizada, minha família linda e a Lia minha amiga irmã. Eles fizeram cartazes, vibraram, torceram. Eu fui aos prantos quando vi eles pela primeira vez na corrida. Moro longe da minha família há muitos anos, a saudade é muito grande. Ver eles torcendo nesse momento e entendendo o quanto aquilo era importante para mim foi algo que eu nunca mais vou esquecer. Além disso, muitos amigos virtuais, conhecidos, amigos dos treinos e até amigos da época que morei em Floripa estavam ali. Cada vez que eu via um rosto conhecido, ouvia meu nome, eu me sentia mais forte e determinada a não desistir, não quebrar. Porque o cansaço é muito grande, mesmo que você tenha treinado, você não sabe o que vai sentir e o que vai acontecer.

Todo mundo vê o glamour da Av. dos Búzios... Mas a maior parte da corrida é assim: você e seus colegas de sofrência.
A cabeça sempre comanda e por muitas vezes eu pensei em parar e caminhar o resto da prova. Mas os dois momentos piores foram na abertura da segunda e terceira voltas. Abrindo a segunda volta, a Lia foi meu anjo e seguiu pela calçada me incentivando, gritando, não me deixando parar. Foi comigo por alguns km me apoiando de longe, mentalmente. Foi o suficiente para passar a vontade de parar e seguir no ritmo. Altos e baixos, assim é a maratona do Ironman. O segredo é saber administrar, passa rápido e quando você vê já está com as duas pulseiras no braço.

Quando passei para abrir a terceira volta, a Lia gritou: continua assim e você vai fechar Sub 11h! Naquela hora começou a cair a ficha. Eu não fazia a menor idéia de qual era o meu tempo até ali, já que eu só estava controlando a alimentação. Foi o incentivo que faltava, segurei a onda de cansaço que batia de vez em quando e só conseguia imaginar meu tempo no pórtico. Eu já podia ver a luz, sentir o momento chegando. Estava chegando ao fim o dia mais mágico da minha vida.

Depois do km 37, foi só emoção. Daquele momento em diante eu não iria mais parar. Corri com toda minha força do coração e da alma. Quando faltava pouco mais de um km, uma surpresa linda: minha irmã me esperou para correr comigo até o funil de chegada. Corremos juntas, ela emocionada, eu estava quase que anestesiada, só olhava para frente e pensava no pórtico. A Lia veio filmando e gritando, foi absolutamente incrível, nunca imaginei minha chegada tão linda...  Meus pais estavam logo na frente. Parei, abracei e chorei. Eles foram uma torcida linda demais!

 

E então entrei no funil. 10 horas, 48 minutos e 54 segundos. You are an Ironman!!!!!



Dei o pulo mais alto que consegui, aterrissei e então veio o choro, chorei muito, de soluçar. Tudo o que eu ri na prova (e não foi pouco), chorei depois da chegada.

Gosto de pensar que foi um sonho. Foi perfeito, como tinha que ser. Passou tão rápido, mas nunca vou esquecer cada momento da prova. Tenho uma lembrança tão vívida que lembro das cores, de cada parte do dia, de cada um que eu encontrei.



Foi, sim, o primeiro de muitos. A preparação é muito dura, exige abdicar de muitas coisas, mas para mim não foi um fardo. Tive meu noivo ao meu lado, um parceiro para todas as horas. Ter feito o Ironman com ele foi muito, muito lindo.
Ainda não sei qual será o próximo. Não estou inscrita para Floripa em 2016. Não sei se volto a fazer. Quero, por um tempo, guardar Floripa na lembrança do jeito que vivi o dia 31 de Maio de 2015: junto com minha família, meus amigos, na cidade que amo, fazendo o que eu gosto tanto. Nadar, pedalar, correr e sorrir. Sem sorrir, não faz sentido!!!!!!




segunda-feira, 25 de maio de 2015

E eis que chegou a hora... 6 dias para o Ironman Brasil!!!




A minha ficha estava demorando a cair. Até semana passada os problemas do cotidiano estavam me absorvendo a atenção, de modo que os dias foram passando rapidamente e não sei como, Maio voou. Me atropelou.

Ontem após os treinos (mais leves, como pede o polimento) do final de semana, estava em casa e comecei a arrumar as coisas para viajar... E então, como que do nada, a ansiedade bateu. Veio na minha cabeça um não, mas diversos fragmentos de filmes dos últimos anos. O início da corrida, as primeiras provas de 10k, a mudança para São Paulo junto com a depressão e solidão, um novo início no esporte, meia maratonas, conhecer meu companheiro de esporte e de vida, o triathlon... O roubo da primeira bike, as primeiras dificuldades e conquistas também, os amigos que fiz no esporte e que levei para a vida. A maratona de Chicago. O El Cruce, prova que no início considerei um tiro no pé, mas coloquei a cara para viver a experiência e obtive o melhor treino mental que já fiz, além de histórias para a vida toda.

E o ciclo duro de treinos. O primeiro ciclo onde razão e emoção caminharam juntas treino a treino. Desde o início, cada pequena conquista num treino qualquer de natação era o suficiente para me levar às lágrimas no vestiário. Sim, eu vivi intensamente o Ironman. Antes mesmo de acontecer, já posso dizer que foi o ciclo que mais me marcou até agora esta atleta amadora. Levei a sério porque era um sonho enorme. Cada um tem os seus, bobagem ou não esse era o meu projeto desse semestre. Não digo que abdiquei de nada, porque fazer o que fiz não é sacrifício nenhum. É planejamento e foco no que realmente importava.

Hoje, arrumo as coisas para a viagem muito ansiosa, mas mais do que satisfeita. Antes de largar sei que fiz tudo da minha maneira e da melhor maneira que podia ter feito. Peço desculpa aos amigos e à família pela ausência, ao meu namorado pelo humor que flutuou mais do que tudo. Só ele acho que sabe o que foi a experiência para mim. Ele escolheu viver tudo isso ao meu lado e não consigo encontrar palavras para expressar o quanto eu sou abençoada.

Treinos bons, treinos ruins, dias onde me sentia a Mulher Maravilha e dias onde tudo deu errado. Cada tijolinho nessa parede valeu a pena. Eu viveria tudo de novo.

Chegou a hora da festa. E quem na vida tem festa de 17 horas de duração, com comida e bebida liberadas? Dia 31 eu terei a minha!




segunda-feira, 4 de maio de 2015

TriHard Caiobá 70.3 - Relato de prova

Antes tarde do que mais tarde...
Após quase um mês de ausência, venho para postar o relato da minha principal prova nesse ciclo de treinos para o Ironman Florianópolis: o TriHard Caiobá.

A prova, anteriormente Long Distance, mudou este ano de organização e um pouco no seu percurso.
O ciclismo que sabidamente era menor do que 90 km, agora realmente tem a metragem correta. Já a corrida teve um pouco menos, mas a organização da prova no geral foi excelente.

Foi minha primeira visita a Caiobá. A cidade realmente é propícia para a prática do triathlon e há incentivo, isso me deixou muito surpresa. A praça onde fizemos nossa transição foi especialmente reformada para as provas que ocorrem lá.

Caiobá me surpreendeu... Vista do hotel, linda!!
O kit da prova foi bom. O normal, tatuagem, numeral de peito, touca, camiseta, número de bike, chips. Nenhum atropelo na entrega. Congresso técnico um pouco lotado demais, local pequeno, mas deixou tudo explicado.

Foi a primeira vez que fiz a desmontagem e montagem da bike sozinha. Um teste para Florianópolis. Na minha última viagem comprei a case Helium da Biknd por indicação de amigos e devo dizer que não me arrependo. A montagem é fácil e a colocação e transporte é muito tranquila. A primeira vez tive um pouco de dúvida e receio, mas quando fui montar novamente e desmontar foi muito mais fácil!!!

Mala bike fechada. Funcionou muito bem!!!
Confesso que cheguei no dia da prova um pouco insegura. Não fiz o Ironman 70.3 Brasília porque queria uma prova menor e mais tranquila para realmente treinar minhas transições e meu ritmo de prova para Florianópolis. Porém, com tantos treinos, o cansaço se acumula. Nem sempre você rende bem durante a semana e fica aquela dúvida: será que estou preparada?

E assim foi meu clima para a largada. Focar em cada passo, fazer uma prova pensada. Calculada.

Concentrada antes da largada. Foto: www.offshot.com.br


As condições da natação foram excelentes. Mar piscina, temperatura perfeita. Esperava até um pouco mais do meu tempo. Mas foi bom ter tido a coragem de largar no meio de todo mundo e enfrentar o bate bate de todo início de prova.

Na T1, o erro que nunca tinha cometido e que me custou alguns segundos: não deixei a sapatilha aberta para calçar na bike. Estava com o velcro fechado!!!! Esquecimento puro. Não pode mais ocorrer. Enfim, abri e calcei ali na linha de monte mesmo.

Foto: www.offshot.com.br


O percurso da bike também é excelente. Asfalto limpo, praticamente plano. Apesar de estar me sentindo forte, foquei na cadência e tentei manter em torno de 90rpm, onde me sinto melhor para correr depois. Não tenho medidor de potência, então este foi meu parâmetro. Tudo encaixou muito bem, hidratação, alimentação e posição na bike. Um único porém nos postos de hidratação desta parte: eram 3 voltas e só havia um posto no retorno lá no fim do percurso. Achei muito pouco. Ou você pegava isotônico ou água. E aí tinha que esperar mais uma volta para poder pegar outra garrafa... Minha sugestão é colocar outro posto na outra ponta do retorno.

A fiscalização tentou ser justa. Acho que nunca se consegue punir a todos corretamente, muitos vaqueiros não serão punidos e outros tantos fazendo prova honesta serão. Mas os juízes estavam atentos.

Minha T2 foi talvez minha melhor até hoje em provas. Vim nos últimos km da bike mentalizando tudo o que devia fazer, já que no Challenge ano passado perdi muito tempo. E fiz tudo muito rápido. Tão rápido que na hora de colocar tudo nos bolsos escapou um dos meus estojinhos de cápsulas de sal. Tudo bem, eu tinha outro que levei da bike. Sou a noiada da hidratação, alimentação e afins. Em prova longa, sempre levo extra de tudo!

Enfim, a corrida. Estava muito preocupada com meus treinos de corrida no ciclo. Parecia que as pernas sempre pesavam uma tonelada cada, e o pace se arrastava nos treinos. Mas confio demais no coach. E foi a hora de mostrar que a cabeça esta pronta e se as pernas estiverem um pouco mais descansadas, tudo vai fluir bem. Fiz uma ótima corrida para meus padrões. Sem quebra, sem pensar em parar, mantendo muito constante meu ritmo. Terminei a prova com meu melhor tempo em 70.3, muito, mas muito melhor do que em Brasília ano passado. Foi a injeção de ânimo e confiança que faltava para completar o ciclo de treinos puxado, cansativo, mas que estou curtindo muito.

Segundo lugar na Categoria!!!
E veio até pódio na categoria. Um segundo lugar no age group e oitavo feminino geral. Muito, mas muito feliz mesmo.





E agora segue o baile... 4 semanas para a largada de um sonho!!!!!!!!

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Ironman Florianópolis - Semana 12 de 20

Pois bem, já quase está findando a semana 13, mas venho aqui para falar como foi a semana passada em relação ao treino...

Em relação à Natação, estamos num período onde o volume já começa a ser combinado a trabalhos de intensidade e força. Algumas séries de Medley, os intervalos fixos já saíram do treino e vieram os famosos "a cada".... Neste ciclo aumentei meus treinos de natação para quatro na semana e o volume cresceu bastante. Mas já sinto resultados, pequenos mas animadores

Acabei nadando terça, quarta e quinta já que sexta era feriado. No sábado mais uma sessão de natação depois do longo de bike fechando a piscina do CEPEUSP.

O ciclismo já vem judiando com o volume crescendo progressivamente. Essa semana, depois dos 160km de longo semana passada, o coach San Palma aliviou e colocou 80km na rodagem longa. Mais dois treinos durante a semana que faço no trainer indoor por questão de segurança e horário.

Na corrida, os tiros há algum tempo estão de menor intensidade e esta semana foram mais longos... E no domingo mais um longão de 30k, o segundo deste ciclo e quarto da minha curta vida de endurance. Desta vez fiz o longo no Ibirapuera em uma volta de 5k que inventamos. Foram 6 voltas pra testar a cabeça. Vejo que depois do El Cruce a parte mental melhorou muito e já não fico brigando tanto mentalmente. Pontos para o sofrimento da prova!!!

O feriado no final ajudou a fazer uma semana um pouco mais tranquila, com mais tempo para recuperação e descanso. Estava precisando já que o volume de treinos estava judiando muito!!!

Cansaço pegando!!!


No mais seguimos o treinamento... No próximo domingo, prova treino no TH3 Triathlon Caiobá, uma prova na distância de 70.3, treino de luxo para ajustar tudo para o Ironman. Vamos nessa!!!


Saldo da semana 12:
- Natação: 4 treinos = 12.450m
- Ciclismo: 3 treinos = 149 km
- Corrida: 4 treinos = 55 km





quinta-feira, 2 de abril de 2015

E como anda a preparação para o Ironman????



Entrou ano, já foi carnaval e a Páscoa já está na porta... e então, como estão os treinos para o Ironman até agora?




O ciclo clássico de vinte semanas de preparação começou um pouco diferente por conta do El Cruce. Só depois da prova pudemos realmente focar no específico para o Ironman.
Desde o início, porém, já fiz algumas mudanças. De horários, hábitos e agenda. E de cabeça também. 

Desde que comecei no triathlon, venho progressivamente conseguindo me organizar melhor e cumprir os treinos da semana sem grandes falhas. Se no início eu só cumpria menos da metade da planilha e ficava morta, hoje já administro o cansaço muito melhor e consigo dar conta da planilha fechando ela verdinha quase toda semana. Aprendizado e organização.
Com o tempo você vai conseguindo otimizar seu tempo na arrumação das roupas, dos suplementos, da alimentação e aprende que o melhor é largar a preguiça do final do dia e deixar tudo pronto para o dia seguinte. Se você espera acordar mais cedo para arrumar tudo no outro dia, além do cansaço de dormir menos, é quase garantido o esquecimento de alguma coisa!!!!

Além disso, os treinos que antes cansavam muito começam a aumentar em intensidade e volume e já não matam como antes. Condicionamento vindo, endurance que também chega com a ainda pouca experiência nas provas longas... Essa semana me dei conta que fiz minha primeira meia maratona há pouco menos de 2 anos. Tanta coisa em tão pouco tempo veio depois, que até acho que estou absorvendo bem!!!

Enfim, fato é que coloquei uma coisa na minha cabeça já no início de 2015. Neste ciclo, vou ligar o automático e nem pensar em matar treino. Pelo menos iniciar o treino é a meta. Se não conseguir terminar por qualquer motivo é outra história.

E isso tem acontecido. Muitos dias a vontade de dormir mais é imensa, bem como a vontade de ficar no sofá assistindo seriado depois do trabalho é maior ainda. Mas não tem chororô, eu quis muito estar na prova, investi tempo e uma quantia bem considerável (beeeem considerável rs) de dinheiro nisso, então o treino correto vem no pacote! 

Tudo vem andando dentro do planejado. Mas treino de Ironman tem algumas coisas bem difíceis de conviver....

1) Sua vida gira muito em torno disso. É um tal de treinar, trabalhar, alimentar-se direitinho e nos horários certos, suplementar, treinar de novo, chegar em casa e arrumar tudo pro dia seguinte que você acaba dispendendo quase que todo seu tempo livre em cima disso. 
2) Driblar o cansaço que só se acumula semana a semana é um desafio. O problema não são os treinos, mas ter que trabalhar, cuidar de casa etc etc. Isso que ainda não tenho filhos... Quem os tem, tem minha admiração completa!!! Os finais de semana não servem como descanso, já que os treinos mais longos são feitos sábado e domingo e a segunda é mais do que oficialmente o pior dia da semana!!! O mais complicado é não deixar os treinos afetarem seu trabalho e interferirem o mínimo possível na sua vida pessoal. Eu considero este o maior desafio do triatleta amador, que treina e ainda tem que trabalhar 8 horas por dia!!!
3) Com o aumento dos treinos, vem as oscilações na imunidade. E aí, haja cuidado e percepção corporal para evitar mais tempo de molho por doença. Há uma semana e meia, acordei sentindo a garganta arranhar. Resolvi ser prudente e conversei com o coach para adaptar a planilha. Perdi alguns treinos planejados ou substitui outros, mas em menos de uma semana voltei 100%! Provavelmente se eu tivesse insistido, estaria ainda mal. 
4) Você aprende que ainda tem muito a aprender!!! Sobre seu corpo, sobre triathlon, enfim, é toda uma nova perspectiva de vida que nesses 5 meses tem que se encaixar e adaptar. 
5) O cansaço deixa você mais emotiva do que nunca. Não é raro o treino que saio chorando. Doeu? Machucou? Não, só estou uma manteiga derretida mesmo. Penso na linha de chegada, na largada ou em algum momento hipotético da prova e choro. Às vezes nem motivo tem. 

Bom, a partir de agora quero fazer postagens frequentes sobre como andam os treinos e a cabeça, semana a semana. Faltam 59 dias para a grande festa! E bora treinar que tá todo mundo treinando e ninguém quer ser feio!!!

Feliz Páscoa a todos, bons treinos e não exagerem no chocolate rsrsrs

quinta-feira, 26 de março de 2015

El Cruce Columbia - Final



Obaaaaa! Dia ainda não nasceu e já estávamos lá de pé. Ansiosos e em clima de último dia!

Dessa vez, acordei mais cedo.  Além da largada ser uma hora mais cedo, já tinha tido a experiência de quase perder a onda de largada no segundo dia pela demora em arrumar as tralhas todas, então resolvi não dar bobeira... Tenho esse defeito, gosto de arrumar tudo meticulosamente e conferir umas dez vezes, e ainda por cima sou lentaaaa pra me arrumar e cheia de processos kkkk é creme no cabelo, protetor solar, creme anti-bolhas, curativo nas bolhas dos dois outros dias... E por aí vai, já viram né? Minha dupla teve que ter uma paciência que vou contar!!! Kkkkk

O terceiro dia tinha o planejamento assim:

Altimetria da última etapa. A maior altimetria acumulada da prova.


Um trecho de 31 km, seguido por uma travessia de barco de aproximadamente meia hora para então fazer a arrancada final de 3 km até a tão esperada chegada!
Apesar de mais curto do que o segundo dia, era a altimetria acumulada maior da prova. Então, muitas subidas e descidas iam castigar as pernas já cansadas.

E como estávamos cansados. Era geral, todos naquele passinho que quem já fez maratona sabe que temos no dia seguinte... Andando com dificuldade, descendo escadas de lado e com dor em todo lugar. O corpo pedia descanso. E eu só pensava como iria ensaiar um trote se até caminhar era difícil????

Largada da etapa. Pernas moídas, um frio de lascar e tudo doía!!!


Mas a reação do corpo é também às vezes fora do que esperamos. Assim que largamos, um trecho mais aberto que sabíamos que não duraria muito e a ordem era trotar. E, depois dos primeiros dolorosos passos, o corpo aqueceu e encaixou um projeto de corrida.

Logo nos despedimos do Camp Pampa Linda e da vista maravilhosa do Cerro Tronador para entrar na mata mais fechada. E lá vem trechos de “single track”. E as filas acabaram se formando, já que todos estavam exaustos e nos trechos de travessia por córregos ou pontes a demora era maior do que nos outros dias. Pela primeira vez, pegamos uma bela fila indiana que segui por uns 7 km e foi além. Todos juntos, muitas duplas subiram a parte mais íngreme dessa etapa em single track. Confesso que achei até bom, já que o pace mais tranquilo era também um descanso pras pernas de certa forma...

Ao chegar no topo da subida, a chuva veio pela primeira vez na prova. Fininha, fraquinha. E uma imagem muito linda no lugar chamado Paso de Las Nubes: estávamos mesmo acima das nuvens, lindo lindo! A chuva foi suficiente para deixar o próximo trecho de descida entre as pedras escorregadio e com muito risco de quedas... No vídeo dá pra perceber que foi travada a descida, por sorte (ou azar de quem tá vendo, porque perdeu a videocassetada) o Fábio não filmou minha queda nessa parte!!! Ahahahahahah



A terceira etapa tinha dois pontos de corte previstos pela organização: no km 14 e no km 25. Quem não alcançasse estes pontos a tempo, teria que ou regressar ao Camp 2 no km 14 ou ir de barco até a chegada no Km 25. Nossa maior meta era não pegar estes cortes. Mas passamos bem pelo km 14, muito antes do corte.

A partir do km 15 mais ou menos, veio uma área alagada (esse terreno é chamado em espanhol mallines) interminável. Além de infinitos pontos onde ou se afundava no barro ou se passava cuidadosamente por troncos , ainda havia outros infinitos trocos baixos onde era necessário abaixar para passar. Muita gente caindo ou batendo a cabeça... Parece muito fácil quando se está disposto e descansado, mas com mais de 80km percorridos a cabeça e o corpo não se conectam mais. Aquilo parecia não acabar nunca e era um trota – passa no barro – trota – abaixa a cabeça que já estava meio que enchendo a paciência. A paisagem monótona até dizer chega e a chuvinha e friozinho chatos mostraram que o El Cruce pode ser tudo num único dia. Foi a parte mais chata da prova e já estava rezando para que acabasse logo, confesso.

Por volta do km 22 encontramos uma dupla de brasileiros que estava nos acompanhando durante os três dias de prova. Ter chegado neles nos animou e  coincidiu com o fim dos mallines malditos, e aí vem aquela força que você nem sabe de onde tira e trotamos até chegar ao ponto de corte do km 25. Posto de hidratação!!!! E passagem muito abaixo do tempo limite, ufa!!!

Nesta parte, já podíamos ver os barcos saindo para a travessia final do km 31. E a partir daí fizemos o trecho mais desnecessário da prova (risos): uma subida de algo em torno de 2,5km para chegar no Chile, passando a Aduana Chilena e voltando pelo mesmo caminho. Aquela coisa só pra fechar a conta dos km sabe? Hahahahaha

Todos caminhando na subida. E nós logicamente não faríamos diferente. Mas aquela vontade de acabar fez a caminhada ter um ritmo muito bom e passamos muita gente. Bom teste de cabeça ver o pessoal descendo naquela corrida gostosa pelo mesmo caminho... Juro que deu vontade de dar meia volta e descer junto!!!

A placa no final da subida indicava que chegávamos ao Chile. Fazia um frio chato. A chuva fina caindo. E nós na desnecessária e folclórica fila com documentos na mão, congelando e esfriando o corpo esperando a Aduana.

Desnecessário porque  funcionou assim: numa mesa, o passaporte era carimbado com a entrada E saída do Chile. Isso mesmo!!! Hahahahaha E na outra mesa, a reentrada na Argentina era carimbada.

Uma meia hora depois, já congelada... Liberada para continuar!!! E aí eu contei: passamos por umas três árvores no Chile. E era isso pessoal!!! Bem-vindos à Argentina!!!! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk muito folclore.

A brevíssima passagem pelo Chile. Pulei dois troncos e tomei um gel no Chile... E foi isso!



A descida foi para mim a melhor parte do terceiro dia. Aquela alegria em estar se aproximando do fim. Nem dor senti. Engatei o melhor pace que pude e só parei quando passei o tapete de cronometragem. Na descida fomos estimulando o pessoal que estava subindo. Soubemos depois que uma parte dos corredores foi dispensada da Aduana pois o frio e chuva estava castigando todos naquela fila. Ponto pro bom senso da organização, que apesar de todas as dificuldades já inerentes numa prova como essa, não mede esforços para solucionar tudo da melhor maneira possível... Eles trabalham muito nos dias de prova, antes e depois!!!

O barco logo chegou para nossa travessia. Um descanso bom para nossas pernas. Uma pena que a chuva tirou um pouco da beleza do “passeio”, mas era realmente muito lindo o lago no meio das montanhas da Patagônia. Mas posso falar? Naquela altura, que paisagem que nada, eu só queria era a linha de chegada! (até rimou)

Descendo do barco, as duplas foram sendo liberadas para o último trecho. 3 km. Uma volta no Ibirapuera, falei. O moço do posto de controle avisou: é tudo plano. Só um tiro de 3 km até o final.

Ali veio aquela força que você tira do fundo da alma e acho que fizemos o melhor ritmo da prova toda. É a cabeça comandando tudo. Frio, chuva, tudo junto para fechar a prova mais dura que já fiz até hoje.
No fim da reta, uma curva à direita e a emblemática rampa de chegada. Algumas pessoas na estrada incentivando. E as lágrimas já querendo cair....



Yo crucé!!!! 3 dias, mais de 100km. Memórias para a vida toda!!

A tradicional rampa de chegada...



E as medalhas personalizadas!

Foi duríssimo sim, mas tive a melhor companhia que poderia desejar. Fazer a prova em dupla é pensar pelo outro e cuidar do outro. E posso dizer? Não é fácil. Acredito que o Fábio tenha tidos desejos de me xingar umas cinco milhões de vezes, mas ele foi companheiro e parceiro até o fim. Eu sabia que seria assim, mas tenho cada dia mais certeza que Deus me presenteou com um anjo.

Se eu faria novamente? Com certeza. Não me arrependo nem um pouco de ter me inscrito e entrado nessa. Agora, por enquanto eu não voltaria para mais uma vez, porque penso que ainda tenho muitas provas a fazer e pouca vida para fazer todas... 

Aos que pensam em fazer, treinem muito. Vá com a cabeça boa e pensando em viver uma experiência de vida. Pode ser uma das melhores da sua vida ou um baita programa de índio (no ano anterior, choveu, fez frio, houveram muitos contratempos e a experiência do pessoal que foi foi muito diferente da nossa). Não há conforto nenhum, a comida é simples, o banho é no lago, o banheiro é químico. Isso pode tirar o humor de muitas pessoas, ainda mais quando o cansaço e dores de dois dias de corrida são somados... Então leve em conta antes de decidir.

Uma coisa eu garanto: será, com toda certeza, inesquecível!!!! E o perrengue todo vai dar saudades depois...

 

quinta-feira, 5 de março de 2015

El Cruce Columbia - Parte 3 - Etapa 2 da Prova

Vamos lá para mais um dia de El Cruce...


Acordamos ainda sem o sol lá fora para podermos arrumar todas as coisas e levantar nosso acampamento...
O dia prometia ser mais frio do que na primeira etapa, de modo que optei por colocar um manguito. Não sou de sentir muito frio em prova, mas sabia que tinha casacos e proteção suficiente na mochila caso esfriasse.

Como no dia anterior tinha feito sol e calor, tivemos a sorte de poder lavar e secar nosso único par de tênis de trilha. Lógico que a recomendação era ter mais de um, mas né? Não somos fábrica de dinheiro, os tênis são caros e principalmente não usamos rotineiramente já que praticamos triathlon, então resolvemos nos virar com um par só. Não ia ser muito legal se tivesse chovido, já que já íamos largar com os tênis molhados.

A largada do segundo dia era também em ondas, com base na sua colocação do dia anterior. Ficamos na segunda onda de largada às 8:15.

Se eu já demoro para me arrumar para longos e provas de corrida e triathlon quando estou no conforto da casa ou hotel, pode-se imaginar que demorei mais ainda para fazer o mesmo numa barraca minúscula né? kkkkkkkk  Sou daquelas que tem que fazer tudo certinho, com calma, para não esquecer nada... E por pouco conseguimos arrumar tudo antes da nossa largada. Ufa! Malas entregues, tudo pronto, vamos para mais um dia!

Altimetria Etapa 2


O segundo dia da prova esse ano era o mais esperado por mim. Eu havia visto as paisagens por onde iríamos passar e sabia que seria o dia mais lindo! Primeiro subiríamos uma montanha e de lá poderíamos ver a Laguna Llum, um lago de degelo que fica entre duas montanhas... Logo depois, mais adiante, poderíamos ter a vista de outro lago onde fica a Isla Corazon, uma ilha em formato de coração (óin!!). Além de poder ver o Tronador, embaixo do qual acamparíamos na chegada.

Essa etapa também colocava um desafio mental: seria minha segunda vez fazendo uma distância de maratona. Um pouco mais de 42km mais uma vez, só que desta vez com subidas e descidas, muito mais demorado e ainda com as pernas cansadas do dia anterior.

Logo no início já percebemos que a etapa ia fluir melhor, com mais trechos onde poderíamos de fato correr. Depois de uns 4 a 5 km a trilha que no início era aberta fechava em um trecho interminável de single track no meio de algo parecido com uma floresta. Era um sem fim de mato, sobe, desce, e o percurso travou, já que ficava mais difícil ultrapassar... Nas poucas oportunidades fomos passando algumas duplas e isso era animador, sinal de que estávamos mais inteiros do que muita gente... Mas, um pouco adiante, minha primeira queda na prova: fui toda feliz desviar de um curso d'água por um tronco solto e fui direto pro chão de pedrinhas... Bela ralada no joelho, mas nada além disso. Detalhe: cinco minutos depois tive que cruzar um rio e molhei os dois pés de qualquer jeito!!! Hahahahahahaha

Primeiros kms... Um friozinho bom e só alegria!!!


Após umas 2 horas e pouco de prova, chegamos ao primeiro ponto esperado do dia: a Laguna Llum. Lindo, único momento. Impossível não parar para contemplar e pensar mais uma vez no quão privilegiada eu era por estar ali naquele momento. 

Dá pra entender? Que lugar...


Mais alguns quilômetros e chegamos no local mais lindo da prova na minha opinião. Não sei dizer o que senti quando vi essa paisagem. Era indescritível. Muita coisa linda num lugar só... Ali estava a Isla Corazon de um lado, e o Cerro Tronador de outro. Um dia de sol, lindo. E a gente ali. Incrível!!!!

Considero este o lugar mais lindo da prova. De um lado, Isla Corazon. De outro, lá no fundo, Cerro Tronador (com neve). Ainda faltava chegar lá no pé dele...


Seguimos em frente porque o dia ainda era longo e tinha mais da metade de prova pela frente. A metade mais monótona. Mais difícil. Começou com mais uma descida judiando das pernas, em caracol, íngreme. Menos técnica do que a do dia anterior. Mas com as pernas cansadas, era fácil tropeçar em alguma raiz solta e pronto, festival de gente caindo. 
E não demora muito torci meu tornozelo pela primeira vez. Nada grave.

Entramos então em um terreno aberto, na beira do Rio Manso. Ali seguiríamos por uns 15 ou 17 km, até a chegada no Camp 2. Hora de recuperar o pace e correr! Finalmente, correr por muitos km, sem galhos, morros, descidas ou pedras atrapalhando. Apenas cruzar algumas vezes o Rio, uma delas com água acima dos joelhos.

Nesse trecho da prova senti algo que nunca tinha sentido enquanto corredora... Lembro de ler uma vez no livro "Do que eu falo quando falo de Corrida", do fantástico Murakami, o relato dele durante uma de suas ultramaratonas de como sua cabeça chegou num estado onde ele não sentia nada. Só queria correr, só pensava em colocar um pé na frente do outro. E nesse dia, eu senti exatamente isso, naquele momento. Do km 28 até a chegada no km 42,5, minha cabeça ficou "limpa". Eu não conseguia pensar em nada. Entrei numa espécie de transe onde não tinha cansaço, dor, nada. Nem vontade de chegar eu tinha. Eu só pensava que não podia parar de correr. Não sei quantas duplas passamos nesse trecho, mas a maioria estava caminhando. Eu podia jurar antes de largar que eu também estaria caminhando no km 38. Nunca pensei que meu limite podia chegar nesse ponto.

De repente, uma curva e a chegada. Simples assim, sem aplausos, sem glamour nenhum. Mas foi a chegada mais emocionante da minha vida. Um marco por assim dizer. Depois de 7 horas e 17 minutos correndo, eu completava a minha segunda maratona.

A chegada desta etapa tão sofrida e tão linda. Assim, sem público, no meio das montanhas entre Chile e Argentina. Na companhia que eu mais podia desejar!!!!


Cheguei e só queria chorar, mas não conseguia nem soltar o choro. Eu ainda não acreditava que tinha feito aquilo depois de correr 26km no dia anterior. Sei que para muitos é pequeno, mas para mim era algo que nunca imaginei fazer. Eu realmente tinha medo de não completar o El Cruce quando cheguei. Agora eu sentia que completaria com um sorriso no rosto. Estava cansada, mas inteira.

Hora da massagem, comida, tentativa e falha de banho no rio mais gelado que já tive contato, e mais uma vez arrumar tudo para o dia seguinte antes do dia virar noite. Tudo com essa vista:


Nosso quarto de hotel... hahaha pequeno, apertado e uma zona, mas com uma vista que não se encontra em todo lugar...

Fui dormir com o choro engasgado ainda, com as lágrimas insistindo em cair em prestações. Nunca vou esquecer aquele transe, aquele momento onde eu esqueci todo o cansaço, dor, peso e só corri. Só isso já tinha valido a viagem para mim.

Continua...


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

El Cruce Columbia - Parte 2 - Etapa 1 de Prova

Chegou o dia da largada!!!!

Tudo pronto, malas fechadas, mochila nas costas, café da manhã bem reforçado e seguimos para a praça de Cerro Catedral, local da largada.

A largada do El Cruce é feita em ondas por horário. Isso é feito para evitar um pouco as filas que se formam nos trechos de trilha mais estreita, que são quase que maioria durante a prova. No primeiro dia nossa largada foi definida pelo número de peito, e largamos na terceira onda.

A organização costuma checar pelo menos um dos equipamentos obrigatórios que precisamos levar. Neste dia todos deviam mostrar o corta-vento, já que nos avisaram que lá no alto da montanha os ventos estavam fortes, apesar do dia de sol e calor. Tudo checado, formamos grupos de 3 duplas para a largada na rampa. Muita festa e emoção nessa hora. Como no dia anterior, após a foto e largada oficial, já subimos pelo teleférico ao ponto onde o tempo realmente começava a contar.

Altimetria da Etapa 1
Chegando a hora!!!!! 




Subindo... por enquanto só sorrisos!! 
E começou a brincadeira!!


E assim começou a primeira etapa. Uma subida dura e beeeem longa, onde só se progredia andando. Quando a subida apertou, ja tirei os bastões de trekking das costas e resolvi usar. Os bastões não são obrigatórios. Vai de cada um treinar com eles e optar pelo uso ou não. Optamos por usar, já que eles aliviavam a força que era necessária nas pernas na subida. Os braços ajudavam como uma alavanca para subir. Nesse ponto aviso aos que querem fazer prova: treinem com os bastões!!!! Em alguns momentos, tive que desviar dos bastões de corredores à frente que insistiam em querer me acertar (risos)...

Quando você pensava que terminou, mais subida!!! Mas olha esse trajeto e a vista... Igualzinho correr em Sampa né? Rs

Ao chegar quase no topo da subida, uma surpresa de arrepiar esperava os corredores... Dois músicos, com violão e violino, tocando no alto do Cerro. Hora de contemplar esse momento único e emocionante... O Cruce é assim, diferente!!!

Infelizmente os vídeos da GoPro ficaram com um volume super baixo pois usamos a caixa estanque... Errinho básico, devíamos ter usado a estanque mas com tela touch, que deixa passar o som! Mas dá para ter uma idéia...



Alto do Cerro Catedral! Depois de muita pedra, subida, areia... E aí, não compensa?


E como tudo que sobe, desce... Veio a descida. Aí você pensa, que bom, vai aliviar. Engano forte. Esta primeira etapa, apesar de menor em distância e acúmulo de altitude, era a mais técnica e difícil. A descida só veio provar! Um paredão de pedras muito inclinado, onde nós debutantes da montanha descíamos rezando agarrados na pedra. Já os treinados iam nos passando, deixando aquela pergunta: "como eles fazem isso??"hahahahahaha.

Passada a descida, um trecho de mata mais fechada em direção ao lago onde acamparíamos. Trilha estreita e interminável... Em alguns momentos abria a mata e podíamos ver o acampamento. Tão perto mas loooonge.... Ainda tinha muito lago pra contornar. O cansaço vinha e a comida já não descia tão bem após 3 ou 4 horas de prova.

Mas vai... Caminha, corre, pula tronco, caminha, cruza arroio, barro, pedra, sobe, desce e chegamos na praia!! O tempo? Não foi dos melhores nem dos piores. Mediano. Mas pouco importava. O que mais importava era ter cruzado o tapete depois de tantas horas!!!!



O cenário compensa tudo!!! O camping 1 era lindo. A vista do lago, o dia lindo! Após a chegada, pegamos as malas do acampamento e seguimos para a nossa barraca. Já aprontamos tudo para a noite (colchão, saco de dormir) e fomos aproveitar o calor para entrar no lago gelado! Já que o sol estava forte, lavamos nossas roupas e tênis e deixamos para secar. A temperatura do lago era ideal para recuperar a musculatura e a maioria dos corredores entrou na água, apesar de estar gelada.

Camp 1 - Los Vaqueanos - Ao lado da chegada!


Hora de almoçar. A comida no El Cruce tem um cardápio que não muda: churrasco, salada, pão e massa. Tudo servido sem parar no almoço emendando com jantar, já que os corredores continuam chegando... Não falta comida. Não espere nada gourmet, mas fome não se passa!

Alimentados, era hora de deitar um pouco no sol, esticar as pernas para depois arrumar tuuuudo pro dia seguinte. A dica era deixar tudo pronto antes de anoitecer, já que não há luz no acampamento e tudo é na base da lanterna. 21h já esteja jantado e pronto para dormir! E tudo que faz de calor num dia de sol, esfria à noite. Não é exagero estar preparado para temperaturas que podem ser negativas. Nesse dia o frio estava bem suportável e o saco de dormir era até um pouco quente demais.

Anoitecer no Camp 1 e o quarto 5 estrelas


Antes de dormir, a organização passou um vídeo de nossa prova da primeira etapa. Achei muito bacana. Aliás, o camping é um perrengue, mas também um lugar que parece fora da nossa realidade. Nada de celular, luz, conforto, mas é meio que surreal ver tanta gente do mundo todo interagindo!!! Todas as idades, tipos físicos, mas todos cansados e felizes! É um lugar bom para desconectar da correria e compartilhar experiências do dia!

E então, já era hora de dormir! Tomei mais um banho de lenços umedecidos (sabonete e shampoo? nada! não se pode usar no lago...), escovei os dentes com uma canequinha e coloquei meu tampão de ouvido. Antes de vir, tive medo de não conseguir dormir pelo barulho de bichos e medo (kkkkk), mas o que mais incomoda mesmo é o barulho dos vizinhos, já que barraca não é parede de concreto e tudo se escuta!!!

Muito ainda nos esperava pela frente e o cansaço só ia piorar!!! Mas agora, era só esperar o amanhecer do dia 2...

(continua)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

El Cruce Columbia 2015 - Parte 1 (Pré-prova)

Bom dia!!!!

Começo nesse post a contar um pouco do que foi a experiência do El Cruce 2015... Quero mais para frente colocar dicas para quem deseja realizar essa prova, mas acho que o relato em si já deve ajudar pelo menos a ter mais uma idéia para tomar a decisão de fazer ou não a prova!



Mas para começar, o que é o El Cruce?
É uma corrida de aventura que em 2015 completou sua 14ª edição. A idéia da corrida é unir Argentina e Chile em um percurso de aproximadamente 100km que muda a cada edição. A prova é tradicionalmente realizada em duplas, porém nos últimos anos começou a oferecer também a modalidade solo. Sempre realizada no verão, o que não significa necessariamente calor já que o clima da Patagônia é um dos mais instáveis do mundo. Sendo assim, deve-se estar preparado para enfrentar calor, frio, chuva, ventos em terrenos que variam muito (neve, rochas, barro, rios...).
Entre os dias de prova, os participantes ficam em acampamentos montados pela organização (no início da prova, os próprios participantes montavam suas barracas...). No acampamento a estrutura é limitada e não há banheiros nem duchas. Somente banheiros químicos e banho, só no rio ou lago e mesmo assim sem usar produtos de higiene para não poluir o local.

Acampamento do El Cruce... O que o quarto tem de ruim, a vista tem de espetacular!!!


Resolvemos participar do El Cruce ano passado, antes de abrirem as inscrições. Fomos com o intuito de completar a prova e evitar ao máximo lesões, pois o objetivo principal do semestre era o Ironman Florianópolis em Maio. Sem pretensões de tempo, já que a montanha não é a nossa especialidade, longe disso. Como triatleta e corredora de rua, minha experiência em montanha se restringia a um trecho do Volta a Ilha em 2013 e uma trilha do Pai Zé no pico do Jaraguá feita duas semanas antes. A idéia era simplesmente viver a experiência. 

E assim, com aval do coach, seguimos para Bariloche na quarta-feira dia 04/02... A largada da prova é separada, solo largava dia 05 e nós que faríamos dupla largaríamos dia 06. Ao chegar em Bariloche já pegamos o táxi direto para Vila Catedral, uma vila no pé do Cerro Catedral que é a estação de esqui de Bariloche e local de largada da prova. Hora de pegar o kit da prova que já é famoso por ser super completo:


O Kit da prova... Super completo! Teve camiseta, primeira pele, polar, corta-vento, buff, cobertor de emergência, prato, copo térmico, porta-gel, meia de compressão, pilhas pra lanterna e até protetor solar!


Até aí tudo muito organizado e rápido. De lá, acompanhamos mais um pouco o movimento de corredores na vila. Os corredores solo já estavam entregando as malas do acampamento (você entrega a mala com as coisas que usará no acampamento um dia antes e fica somente com sua roupa de prova e mochila que irá correr...). Fora os corredores a vila parecia fantasma. Muito ruim em estrutura pois a alta temporada é no inverno, então foi grande a dificuldade para conseguir um local para jantar e comprar água. Mas conseguimos nos acertar. 

No dia seguinte fomos para a praça acompanhar a largada solo. Aí já deu para ver porque o El Cruce é tão único e diferente. A largada é por grupos e horários distintos, no primeiro dia divididos aleatoriamente por número de peito. Tradicionalmente os corredores sobem uma rampa no estilo rally, tiram a foto oficial e de lá saem para a etapa 1. Este ano foi ainda mais especial: logo na largada, os corredores de seis em seis pegavam o teleférico que subia até o ponto onde realmente começavam a correr e contar o tempo da etapa. Muito diferente e emocionante!!!



Acabamos resolvendo subir também o Cerro neste dia, só que por outro teleférico aberto para visitantes. Ao chegar lá em cima, surpresa: pudemos acompanhar os corredores num pedaço do trajeto e ver o que nos esperava: subidas duríssimas e um visual incrível!


Vista do teleférico... Os corredores passavam lá embaixo!

Hora de arrumar as malas do acampamento e mochila de prova com tudo que usaríamos no dia 1, já que a mala de acampamento ia ser transportada e só teríamos acesso a ela no final da etapa. Por essas e por outras o El Cruce exige um planejamento pior do que as provas de triathlon: a duração pode variar muito, você pode se perder e aí acrescentar de minutos a horas no seu tempo, então a alimentação, hidratação tem que ser pensada para isso. Existem elementos obrigatórios pela organização que você deve carregar todos os dias. A maioria para proteger de mudanças do clima e caso você tenha algum imprevisto e precise ficar na montanha esperando resgate... O resgate pode demorar tanto quanto você para chegar no lugar onde chegou! Então não dá para bobear. Planejamos junto com nutricionista a parte de alimentação, sempre extras contados e organizamos tudo certinho. A mala de acampamento foi com saco de dormir, comidinhas para lanches no acampamento, nutrição para outras etapas e roupas. Ainda levamos sempre medicamentos básicos e material para curativos e proteção de bolhas. Uma outra mala ficou no hotel no nosso caso, que era a mala do que não usaríamos na prova e sim após a mesma.

Parte da nutrição levada para a prova... Vale lembrar que isso foi para a dupla e calculamos para sobrar!!!! Ainda levamos sanduíches para ter algo salgado durante a etapa...


No final da tarde, um congresso técnico e confraternização com os corredores da categoria dupla aconteceu. Bom para esclarecer algumas dúvidas, mas serviu mais para aumentar e expectativa para o dia seguinte!!!



Agora era só tentar dormir e esperar o dia clarear...

(continua...)